(F*) Alien (part II)
15:07Eu caí
aqui. Eu não me lembro como aconteceu... muito menos por quê.
Caminhei por aí. Caminhei por muito tempo. Minhas pernas
estão mais fortes, minha visão aguçada.
Eu entrei em um lugar, uma loja, não é porque não sou
daqui que significa que não existam essas coisas de onde vim, que eu não me
lembre delas de um jeito ou de outro, intuitivamente, ou claramente. Parei na
frente do homem separando produtos numa prateleira e perguntei por que ele
estava fazendo aquilo. Ele me
olhou muito confuso. Eu conhecia aquela cara. A cara de um robô entrando
em curto-circuito.
Não ia dar para ninguém me responder o que diabos eu
estava fazendo ali. Eu teria que descobrir sozinho.

Tremor e melancolia? Não vinham de cada um deles, não,
não todos. Mas estava lá, e estava crescendo.
Parei na frente de uma vitrine, a TV transmitia um show,
The Stones in the Park em 1969. Conforme assistia, sem som, soube que não ia me
esquecer dos rostos. Havia tanta inocência neles, tanta...
Inocência na maquiagem imperfeita das mulheres, nos
cortes de cabelo, nas roupas, nas expressões, nas tentativas de cantar junto ou
só curtir e absorver o momento. Mas aquele era o passado. Eu não conseguia
enxergar aquela inocência ao olhar ao meu redor, naquele presente histérico. E se
a inocência não for possível no presente? E se ela for uma coisa do passado
mesmo? Pressinto que aqueles ingleses em 69 não viam a inocência neles mesmos.
Se eu pudesse me tornar a Inocência, talvez eu vivesse em
paz em qualquer lugar, nesse planeta ou outro. Como se faz isso? Quando penso
em pura inocência meu cérebro, como uma máquina, instantaneamente processa
imagens de crianças e loucos, ou crianças loucas.
Eu vou acabar ficando louco, me parece lógico que eu vou
enlouquecer. Eu deveria me sentir culpado porque sobrevivi? Sobrevivi a todos
eles quando a nave caiu. Não, não deveria me sentir culpado, mas me sinto, lá
no fundo sei que vou viver para me justificar. Não vai ser de propósito. Algo me
diz que a culpa é a especialidade da Terra. Todos esses corredores na rua,
atrasados para alguma coisa, se fossem colocados num prado, comendo boa comida
e ouvindo os pássaros, nus na grama, em plena segunda feira, não se sentiriam
culpados? Nem que fosse como uma pulga atrás da orelha, um eco: o que está fazendo aqui? Por que não está
fazendo dinheiro?
É ISSO. Entendi. A cara do homem na loja.
Eu vou me ferrar aqui. Vou me ferrar tanto. Sou formado em Intuição, Lógica e
Motim.
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