Casa Assombrada
23:50
O maior exercício da vida não é agarrar coisas, mas soltá-las.

Eu já estive em lugares terríveis. Nenhum pior do que em
sua própria casa assombrada. Água benta não vai resolver, nem da igreja, nem de
uma cachoeira, nem da boca ou pernas da pessoa amada. Nada externo vai exorcizar
sua casa interna. Nem um sacerdote, nem, de novo, a pessoa amada, nem o
repassador de drogas da rua, nem um escritor, nem um rock star no rádio, nem mesmo sua
mãe ou um amigo. Uma casa assombrada pode, inclusive, assustar muitas dessas
pessoas, sem sua intenção.
Uma casa assombrada pode ser quieta, calma, e pode parir
uma tempestade.
Eu não quero assustar ninguém, nem a mim mesma, nem viver
a menor versão do que poderia viver. Mas se as pessoas às vezes tem o poder de nos
marcar e nos tornar assombrados, eu não deveria sentir que é bom mantê-las
longe? Bom, esse é o pensamento de uma casa assombrada. Somos casas assombradas.
Eu quero ser habitada de luz, não fantasmas.
Eu tenho que renascer fora do ego. Mas se eu tentar com
muito esforço, será algo que virá do ego, e pelo ego, e isso não serve. Tarefa complicada. Soltar. Deixar ir.
Nem seja uma casa. Só seja. Eu sou parte do todo, eu não sou nada. Só há alegria no todo. Só há alegria
no nada. Nada é em qualquer lugar e de qualquer jeito, o nada não tem
pressa, e sem pressa, eu chego lá o tempo todo, e nunca, o tempo todo, e nunca.
Eu nunca termino. Eu me torno
o que sou: imortal.
Eu tenho uma escolha entre alegria e sofrimento. O desafio
é que o sofrimento pode ser lindo como uma puta bem maquiada e bem vestida. Mas
se você sabe disso, você não vai chegar até o quarto do hotel com ela, você vai virar e ir embora do corredor. Se você negar que escolheu seu sofrimento, já
está nele, qualquer negação nos leva até ele.
E também... Não escute nada do que eu disse. Não siga o sofrimento no corredor
do hotel. Não siga ninguém. Não
seja ninguém. Então, seja alegria. Seja tudo.
Ela só quer seu
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