Gentilmente, Max
13:30
Ela estava sentada num dos
bancos com encosto lateral do metrô, não bem na janela, mas dava para se
encostar. O vagão estava vazio, ela tinha trabalhado até mais tarde na redação
do jornal, e aquela linha costumava mesmo ser mais vazia, ainda mais no último
vagão. Mas só durante a passagem por duas estações foi assim. Ele entrou na
terceira.
Era um jovem, alto, forte,
mas nem tanto, bonito e naturalmente sedutor. Fazia muito frio aquela noite e
ele usava um casaco preto com jeans, gotículas cobriam o cabelo claro, curto,
cheio e bagunçado, mas aquele tipo de bagunçado, que ela como mulher sabia, que
levava um tempo para arrumar.

Aquela escolha a deixou
apreensiva, e piorou quando ele começou a encará-la. Ela pensou em como não
devia estar muito atraente, enfiada em blusas de lã, o cabelo escuro tinha
perdido o brilho de antes com a chuva que ela tinha tomado, e no fim daquele
dia exaustivo provavelmente sua maquiagem estava borrada. Em seguida se
perguntou por que tinha pensado nisso. Depois, sua reação exterior, diante
dele, foi encará-lo e ver no que dava. Se ele fosse um criminoso, ela já estava
sem salvação a partir do momento em que a porta se fechou atrás dele.
Primeiro, o olhou sem
saber se parecia assustada ou só confusa, depois contraiu as sobrancelhas o questionando
sem palavras. Ele a respondeu.
- Eu sou garoto de programa. Você quer
alguma coisa?
Ela ouviu a voz dele com
uma atenção, com a qual há tempos não percebia as coisas. Vivia ocupada,
fazendo muitas coisas, várias vezes ao mesmo tempo, logo tinha treinado sua
concentração, a dividido matematicamente. Ela não sabia direito há quanto tempo
não dava toda a atenção do mundo para uma coisa só, tinha impressão de que
tinham se passado séculos desde o último momento mais ou menos como aquele.
Ela estava cansada, e não
era só sobre trabalho, se sentia cansada sempre, por dentro. Via-se cansada,
não como alguém que não tem paciência e fica cansada de esperar, mas como
alguém que tem paciência demais.
A voz dele soou como de
outro mundo, por causa da atenção que ela deu. E todo o vagão pareceu um mundo
novo onde ela podia relaxar, talvez fora dali, em outro dia, ela só tivesse
entendido as palavras dele e mais nada.
Ela também o respondeu,
com uma pergunta:
- Você beija suas clientes?
- Beijo.
Ele pareceu cansado
também, mas fisicamente mesmo, as pálpebras baixas pareciam que iam se fechar
de vez a qualquer momento. Ela supôs que alguém que está na vida noturna,
talvez tivesse dormido muito pouco ou nem dormido.
- Então... eu quero... A gente pode fazer as
coisas sem planejar? Sabe... só... indo. – ela propôs.
- Ok.
Ele aceitou, balançando a
cabeça positivamente, de boca aberta, meio suspenso por um momento, parecia ser
o sono. Mas foi breve, logo ele a beijou, tocando seus lábios delicadamente,
roçando seu rosto no dela, depois entrando cada vez mais na sua boca. Foi um
longo beijo, provavelmente sem nem saber, ele dava a ela exatamente o que ela
queria. Há algum tempo ela precisava ser bem beijada.
Teve a sensação de ter
encontrado um beijo. Não sabia se era o suposto sono dele, ou
se simplesmente estava sendo delicado, de um jeito que a tomou o ar, e
logo o fez perder seu fôlego também, porque ia até o fundo de cada sensação
quando mergulhava nela.
Então nessa mesma onda de
movimento, ele colocou a mão sobre seu joelho e foi adentrando suas pernas.
Com a cabeça ele foi até
seu colo, se enfiando entre os botões de sua blusa, sentiu bem seu cheiro, se
deixou ficar caído ali por um instante. Depois com a ajuda de uma das mãos
abriu a blusa, e então a segunda por baixo desta, para poder tocar sua pele
embaixo da terceira. Deixando um pouco de lado sua boca, ele beijou levemente a
região dos seios pelas possíveis aberturas que fazia na blusa. A outra mão
deixou de apoiar suas costas para ocupar o lugar dentre suas pernas.
Ele também não estava
vivendo um momento corriqueiro. Seu físico estava de fato cansado, e sua mente
ele tinha anestesiado há quase dois anos. A moça com quem ele vivia aquele
inédito momento de consciência – realmente a via, a percebia – parecia ser mais
velha, mas não muito. Não chegava a ser o tipo dele, ele costumava se atrair
por mulheres que chamassem mais atenção, mas cada parte que ele alcançava no
corpo dela era incrivelmente compreendida pelo corpo dele. Ele não estava mais
anestesiado.
Pôs a mão sobre o ventre
dela, o que a fez tremer bem de leve.
- Eu quero você em mim agora. – ela disse.
Logo pôde ouvir o
desabotoar de sua calça, e o barulho do cinto dele se abrindo. Preocupada, mas
discreta, ela olhou para baixo, observando enquanto pegava uma camisinha no
bolso, supôs que ele tivesse um estoque, mas quis ter certeza de que o usaria.
Com habilidade para
transpor o obstáculo da posição e das roupas, ele atendeu ao pedido dela.
Conforme seus movimentos ganhavam intensidade, e ela respondia de volta, ele
podia ouvir cada som que ela soltava, do mais alto ao mais insignificante, ele
não estava em nenhum outro lugar, estava bem ali no metrô, soltando seus sons
animais também, mas sem teatro, sem exagerar.
Ela percebeu que não era
só sobre o prazer, isso todos eram capazes de proporcionar a si mesmos, até
mais frequentemente e melhor, mas era necessária uma segunda pessoa assim tão
próxima, te conhecendo através do corpo. Não havia razão para ter vergonha,
quando ele se afastou dela, e a respiração dos dois parecia não aguentar mais.
Esperando o ar voltar aos
poucos, se olharam bem nos olhos, pelo que pareceu um longo espaço de tempo.
- Quantos anos você tem?
Ela perguntou, quando
conseguiu falar direito.
- Dezenove, quase vinte. – respondeu.
- Como essa vida aconteceu?
Sua pergunta saiu assim, e
ela deixou acontecer, como estava fazendo com tudo naquela noite incomum. Ele
entendeu facilmente, e respondeu:
- Me cansei da vida de antes, em casa com a
minha mãe, acho que ela está aliviada sem mim.
Ele ainda ofegava, e mais
devagar, conseguia respondê-la.
- Foi num domingo – ele continuou – que eu
saí definitivamente. Ela sempre brigava comigo sobre o colégio, não achou que eu
seria capaz de me formar, nesse dia eu tinha feito dezoito anos, e não quis
fazer nada pra comemorar, uma coisa tão insignificante virou uma briga... uma
longa briga. Então ela disse o quanto eu fazia tudo errado. Por que as pessoas
são sinceras?
- Não são.
Ele aceitou aquela resposta
sem nenhum questionamento, e deitou no ombro dela. Com certo peso no coração,
ela disse:
- Vou ter que descer.
- Por quê?
- Eu tenho mesmo.
Na verdade, ela estava com
medo. Era possível ser irresponsável e não ir para casa, depois ir trabalhar de
manhã sem ter dormido, mas acabou dizendo que tinha que ir. Precisar daquele
rapaz por mais tempo do que aquele no metrô só lhe causaria mais problemas, ela
sabia.
Se ajeitando, ela
perguntou quanto o devia. Encabulado, pela primeira vez naquela situação, ele
respondeu:
- Qualquer coisa que você tiver.
Tirando as notas de
dinheiro que tinha na carteira, ela se levantou. Estendeu a mão com o
pagamento, e ele, finalmente se parecendo com um rapaz de dezenove anos,
perguntou:
- Quer meu telefone?
- Melhor não.
Mais uma vez cabisbaixo,
ele disse:
- Você tem razão.
Levantou-se também, e saiu
com ela pela porta do vagão. Os dois decidiram não olhar enquanto se afastavam,
mas ela vacilou por um instante, e quando ele já subia as longas escadas
daquela estação, parou e o observou correndo degraus a cima. Foi quando notou,
bem onde eles tinham descido, um papel rosa dobrado. Recuou aqueles passos, e
abriu o papel, onde leu:
Oi, Max, aqui é a Helena. Você disse aquelas coisas, e
que ia me ligar... Seu telefone é mesmo 8343-9115? Me procura.
A primeira coisa que
percebeu é que ele – Max, se fosse seu verdadeiro nome – não a dissera nada,
nenhuma palavra doce e apaixonada, e isso pareceu tão bom, sem palavras de
ilusão. A segunda coisa que percebeu foi que mesmo ainda sendo bem jovem, aos
vinte e quatro anos de idade, estava velha demais para ignorar sinais.
2 comentários
Admiro a tua capacidade de retratar o cotidiano de forma tão bela.
ResponderExcluirSou tua eterna fã. ♥
♥
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